O que pode acontecer com a venezuela após a oposição contestar a vitória de maduro

the flag of venezuela on a flag pole

A expectativa de milhões de venezuelanos por um resultado oficial anunciado pelo Conselho Nacional Eleitoral (CNE) chegou ao fim pouco após a meia-noite, horário local, na Venezuela.

O presidente da autoridade eleitoral venezuelana, Elvis Amoroso, proclamou Nicolás Maduro como o vencedor da eleição, com 5.150.092 votos, representando 51,20% do total. Seu oponente, Edmundo González Urrutia, obteve 4.445.978 votos, ou 44,2%, com 80% das urnas apuradas. Amoroso declarou que o resultado era definitivo.

Contra todas as expectativas e a maioria das pesquisas de opinião, Nicolás Maduro assegurou um terceiro mandato, o que pode fazê-lo o líder com o maior tempo no cargo de presidente da Venezuela na história moderna do país.

Durante a cerimônia em que foi oficialmente declarado presidente eleito, Maduro acusou seus opositores e a “extrema direita” internacional de tentarem desestabilizar a nação.

“Os mesmos países que atualmente questionam o processo eleitoral venezuelano, a mesma extrema direita fascista… foram aqueles que tentaram impor ao povo da Venezuela, contrariando a Constituição, um presidente ilegítimo, utilizando as instituições do país”, afirmou ele, referindo-se à autoproclamação do deputado Juan Guaidó como presidente interino em 2019.

Maduro acrescentou, chamando o episódio de “uma espécie de Guaidó 2.0”.

O chavismo, movimento político atualmente liderado por Maduro, sempre demonstrou confiança na vitória. Jorge Rodriguez, chefe de campanha de Maduro, insinuou algumas horas antes do anúncio dos resultados que a contagem dos votos seria favorável ao chavismo.

“A violência não prevaleceu, o ódio foi derrotado. O amor triunfou, a independência venceu, a soberania da Venezuela saiu vitoriosa e a paz prevaleceu”, declarou Rodriguez.

Nicolás Maduro Guerra, filho de Maduro, também insinuou uma vitória do pai antes da divulgação oficial dos resultados.

“As pesquisas refletem o que as ruas têm manifestado durante todos esses meses de campanha. Vitória do povo venezuelano, feliz aniversário, comandante Chávez!”, escreveu ele na rede social X, em alusão ao aniversário do fundador do chavismo (28/7).

Maduro já havia afirmado em fevereiro que venceria “de qualquer forma”. Entretanto, com uma oposição que acredita ter conquistado a vitória, apoiada pelas pesquisas de opinião, a estabilidade política no país parece cada vez mais distante.

“Esse anúncio gera uma grande decepção na oposição, que participou das eleições com muito entusiasmo”, explica o cientista político Eduardo Valero, professor de estudos políticos da Universidade Central da Venezuela, à BBC News Mundo, serviço de notícias em espanhol da BBC.

Veja agora três cenários possíveis para a Venezuela após a declaração de vitória de Nicolás Maduro.

Protestos

Logo após o anúncio dos resultados, intensos protestos com batidas de panelas e frigideiras começaram em várias áreas do leste de Caracas, capital da Venezuela. “Fraude!” foi um dos gritos ouvidos dos moradores do bairro Altamira.

Para muitos opositores, as eleições não terminararam com o anúncio do CNE. A líder da oposição, Maria Corina Machado, afirmou que continuará a luta eleitoral “até o fim”.

a man standing near the statue

“Isso significa que todos ficaremos nos centros de votação até que os votos sejam contados e os boletins de urna sejam obtidos. Faremos prevalecer a verdade e respeitaremos a soberania popular”, ela escreveu na rede social X pouco antes do anúncio dos resultados.

Muitos analistas políticos preveem um período de protestos no país como resultado do anúncio do CNE. O cientista político Eduardo Valero antecipa um possível descontentamento popular e repressão por parte das autoridades.

“A questão é saber se o governo está disposto a arcar com os custos de mais repressão. Eles irão assumir o custo de prender aqueles que decidirem não aceitar os resultados?”, questiona Valero.

No entanto, ele acredita que a magnitude dos protestos dependerá da força da reação da oposição a este anúncio e se ela convocará as pessoas para saírem em massa às ruas.

Pouco após o CNE ter declarado Maduro como vencedor, Machado proclamou a vitória da oposição. Seus números são baseados em 40% dos boletins de urna que ela afirma ter.

“Isto não é apenas uma fraude, é desrespeitar e violar a soberania popular. Não há como justificar isso, não com as informações que temos”, acrescentou.

Não reconhecimento internacional e mais sanções

Diversos líderes mundiais já pediram que Maduro respeite os resultados eleitorais, uma demanda que muitos interpretam como uma preocupação com a possibilidade de manipulação dos votos.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva (PT), apesar de não ter comentado diretamente sobre os resultados anunciados, declarou em uma coletiva de imprensa na semana anterior que Maduro precisava “aprender que, quando você vence, você fica; quando você perde, você sai”.

pathway near trees and street posts

“Fiquei assustado com os comentários de Maduro de que a Venezuela poderia enfrentar um banho de sangue se perdesse”, afirmou Lula, referindo-se a declarações anteriores do presidente venezuelano.

Por outro lado, o governo de Gabriel Boric, presidente do Chile, emitiu um comunicado pouco antes do anúncio da CNE, pedindo às instituições venezuelanas que respeitem a “vontade soberana do povo de decidir seu destino”.

Após a CNE declarar Maduro como vencedor, Boric expressou descrença nos resultados.

“O regime de Maduro deve entender que os resultados publicados são difíceis de acreditar. A comunidade internacional e, especialmente, o povo venezuelano, incluindo os milhões de exilados, exigem total transparência das atas e do processo, além de observadores internacionais não alinhados ao governo para garantir a veracidade dos resultados. O Chile não reconhecerá nenhum resultado que não seja verificável”, declarou Boric na rede social X.

Valero destaca que o chavismo foi beneficiado por um crescimento econômico próximo a 5% do Produto Interno Bruto nos últimos dois anos. No entanto, a sustentabilidade desse crescimento dependerá do reconhecimento de Maduro no cenário internacional.

“Num contexto latino-americano, é provável que a maioria dos líderes da região se unam contra Maduro, com Lula e o presidente colombiano Gustavo Petro como intermediários, já que parecem ter uma linha de comunicação com Maduro”, comenta Valero.

Oficiais do governo dos EUA indicaram que sua política de sanções à Venezuela dependeria do andamento das eleições, sugerindo que poderiam aliviar as sanções se as eleições fossem transparentes.

Após o anúncio da vitória de Maduro pela CNE, o secretário de Estado dos EUA, Antony Blinken, expressou “sérias preocupações” de que “os resultados anunciados não refletem a vontade ou os votos do povo venezuelano”.

“A comunidade internacional está observando isso de perto e responderá de acordo”, disse Blinken.

Aumento da Migração

De acordo com o Alto Comissariado das Nações Unidas para os Refugiados (ACNUR), cerca de 7,7 milhões de venezuelanos saíram do país em busca de melhores condições de vida. A maior parte dessa migração ocorreu nos últimos anos, motivada por uma grave crise econômica que deixou milhões de pessoas na pobreza.

Nos últimos meses, o fluxo de emigrantes diminuiu, e alguns dos que partiram chegaram a retornar ao país.

a woman sleeping on the bench

“Existe agora a preocupação de que o anúncio da CNE possa desencadear mais uma onda migratória.

De acordo com uma pesquisa realizada pela Meganalisis e publicada em abril, pelo menos 44,6% da população venezuelana consideraria emigrar se Maduro ganhasse um terceiro mandato presidencial.

Além disso, outra pesquisa recente da ORC Consultores revelou que mais de 18% dos entrevistados planejariam migrar do país antes do final do ano, caso Maduro saísse vitorioso.

O cientista político Valero acredita que o êxodo não será significativamente maior, pois o mundo atual está mais instável do que há uma década, e as nações estão em conflito, o que aumenta a consciência de que a vida no exterior não é tão fácil.”

Deixe um comentário